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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ament

- Sinceramente, o jeito que esquartejas meu corpo com suas doces vãs palavras faz de mim um ser mais desejoso. Essa agressividade que seus poros esbanjam me entorpece, é delirante.
Ruídos
- Silêncio meu amor, não terminei.
- Olhe para você. Olhe para mim. Viu? Nossos corpos estão presos, nossa respiração continua sendo a mesma de quando erámos preenchidos de calor.
- Não se engane...
- Está vendo?! Você, eu... Nós não conseguimos sequer disfarçar o que nos corrompe.
- Quer saber? Estou voltando para o inferno.
(passos,silêncio,voz distante)
- Espere, estou indo com você.

Ament - deusa egipcia da morte

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Tênebra

- " Você tem sentimentos? "
- Tenho.

Enfrente os olhos genuinamente embriagantes,beba-os. Vorazmente, sua mente domina os lábios que exalam uma doce frieza entorpecendo aquele ser. Rasga-se os vestígios saudosistas. Em suas mãos cálices de fogos formam-se, são lançados em direção do velho conhecido que outrora a incinerava.Ele tomou a forma de cinzas, embalou-se com o vento fazendo-a respirar o desprezível.Desprezível por encontrar-se nela, adormecidamente estava nela.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O segredo

- Você se lembra do que aconteceu?
- Não sei...
As mãos juntavam-se em rápidos movimentos. Os pés balançavam na tentativa daquele incomodo amenizar.
- Podemos tentar conversar sobre isso. Você quer?
- Eu não sei. Eu... eu.. eu quero.
- Conte-me.

  Aquele dia tinha sido exaustivo, foram processos e mais processos em minha mesa. Chegando em casa, ela estava na cozinha pegando os pratos para o jantar, dei um beijo em sua face. Ele estava na sala com a sobrinha da minha esposa assistindo ao filme. Subi para tomar banho. Logo após 20 minutos estava ali. Jantávamos e conversavamos, felizmente...

- Você está bem?
- Sim, estou.

As mãos transpiram.Sente os batimentos cardíacos acelerarem. Eduardo continua.

Ao terminar, pedimos para as crianças se arrumarem para dormir, pois eu  já estava subindo para contar a história. Sentei na cadeira em frente as duas camas. Ela... ela era linda. Não conseguia parar de olhá-la. Vi que o Pedro já estava a dormir enquanto ela revirava de um lado para o outro - era o que eu precisava. Sentei ao lado da cama. E meus dedos ...

 
Eduardo dá uma pequena pausa e respira,prossegue.

O medo me dominava. Eu não queria sentir aquilo, mas eu não conseguia me controlar. Eu.. eu.. eu precisava estar perto dela, não queria fazer mal, não queria machucá-la. Ouvi alguns passos e me assustei, era apenas minha esposa encostando a porta do nosso quarto. Continuei ali por mais alguns minutos e fui para o quarto. A necessidade tomava conta da minha mente, do meu corpo. Eu me sentia extasiado ao estar perto dela, evitava por diversas vezes. Nas noites que minha mulher a levava para casa,eu ficava atormentado - era o meu doce anjo diante de mim, só queria cuida-la.

- Você entende?! EU NÃO CONSIGO CONTROLAR !
- Acalme-se Eduardo, não estou aqui para te julgar.
- Eu sei, eu sei. Me ajude, eu preciso.

 O silêncio que pairava foi quebrado com o som do choro de Eduardo, que disse :

Abri a porta cuidadosamente e fui ao quarto das crianças, o relógio marcava 2:30. Ela estava dormindo, meus olhos estavam estagnados sobre aquele pequeno corpo coberto pelo lençol branco florido. Sentia-me atraído, o desejo estava ai. Senti culpa. Cheguei mais perto do meu doce anjo, toquei aquela pele macia, ela abriu os olhos e eu sorri. As minhas mãos suavam,sentia o sangue correr por todo meu corpo e minha respiração estava ofegante - queria mais daquele perfeito corpo. Minhas mãos deslizaram sobre suas pernas. Hesitei. Olhei para o Pedro. Eu não podia, não podia ! Então, eu sai do quarto . O corpo trêmulo de desejo e angústia.

- Eduardo, ela não manisfestou medo?
-Não. Ela confiava em mim.
- Confiava?
-Sim. Porque eu a preparo durante meses.
- Há quanto tempo?
[silêncio]
- Há quanto tempo, Eduardo?
- Um ano e meio.

Um silêncio duradouro e ao fundo uma voz calma diz : Obrigada, Eduardo. 


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Roberta

- Olhe pare mim
- Pode falar.
- Não, eu quero que olhes para mim.

Com um sorriso tímido, ela olhou.
 - Está vendo?
- Estou.
- E o que acha ?
- O que eu acho ... ?!
- É ! Me diga.
- Eu acho que você tem medo.
- Por que você não facilita as coisas?
- Já estou.
- Não está !
- Estou. Eu te mostro exatamente o que nenhuma outra fez até aqui.

..Desceu do carro e deixou seu doce aroma, doce.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

desabafo perdido

... É assim, as vezes me pego sentindo o vazio que eu própria tracei.
Estagnei-me.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

o teatro

- Você é a única pessoa que me importaria em perder.
(silêncio)
- Sério?
( olhar fixo )
- Não.

Em dias estranhos é preferível acomodar-se ao lado dela no meio-fio de sempre. Abrace-a e apenas olhe. Veja aquele sorriso que lhe diz tantas coisas.Não, não diga que a ama , isso é desnecessário. Ponha a mão sob a dela. Marque aquela pele. Só não deixe de olhar porque você pode ver a alma insana refletida nos espelhos d'água daquela rua. E ao fim, terás a certeza de que veio como um sonho bom.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Insípida

Chegue. Entre. Aconhegue-se. Só não vá, não vá para fora, fique.


- "Veja a tempestade, ela está diante dos seus olhos."
- Eu sei , posso sentir a gélida temperatura no encontro de minhas mãos.
- "Então saia da janela."
- Você está certa.


E durante todo dia, choveu. Ela ficou em casa,ela continuou ali.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

romance urbano

Estava impregnada pelo odor fétido , o longo cabelo negro estava preso  por algum pedaço de tecido  que foi encontrado na noite anterior. Ela compartilhava do mesmo prazer entorpecente, o qual corrompia todos os corpos presentes no local, em cada inalar aquilo entranhava-se em seu corpo – um breve efeito.Durante os sete últimos meses, era ali que ela se encontrava.Seres de todas as cores e formas rastejavam sob seu corpo consumindo-a.
Em algumas noites, tocavam aquela pele marcada por cicatrizes, eles beijavam os seios , mordiam os lábios sem cor - ela vendia seu corpo para ter míseras doses delirantes.Quando estava ali desencontrava-se. Tão apaixonada que perdia-se em si, era consumida vorazmente e no final sabia que era apenas mais uma esperando por ajuda, pois sua própria vontade tornava-se insuficiente frente à aquela prisão química.
Ela só precisa de um olhar , de uma ajuda como tantas outras Helenas.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

 " Nos pequeninos dedos as doses escorrem afoitas, têm sabor um tanto amargo . Molham a pele, encobertam a vívida face , parecem dançar ao som da melodia. Mas... mas, elas apenas escapam quando aquele sorriso se faz amante das palavras ao pé do ouvido, palavras sem um fim, ditas para que toquem os lábios, e tocam. "  


Entre as coisas guardadas na  caixa da lembrança, Sophia encontrou o pequeno bilhete.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Afogar-se

"..Os seus longos cabelos tocam-lhe a face, ele, extasiado com o sentir de tê-la em seus braços beija sutilmente aquela pele morena adocicada provocando um sorriso juvenil que se une ao brilho dos olhos negros."

Ele sente o perfume dela. Algumas lágrimas rolaram sobre a fotografia, a qual tinha no verso pequenas letras com formato quase que perfeito - foi o suficiente, a felicidade desejada transbordou naquele breve suspiro. Ao levantar-se, as fotos em seu colo tocaram o chão do quarto. Pegou o par de tênis ao lado do armário,calçou. As chaves estavam na estante. Dirigiu-se até a porta -  era como uma brisa primaveril. Chegando lá, ajoelhou-se perto do epitáfio - um punhado de lembranças pairaram sobre ele. Ali tudo estava vivo. A recordação do dia que antecedera o tomou sentindo a última vez que beijara sutilmente a doce pele, embriagou-se serenamente com as doses saudosistas. 
A gélida chuva começava a cair , eis o momento de sua partida. Ele apenas voltaria ali no próximo 1° de julho.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Menina, doce menina

Céu azul, Nuvens bailando.Vento beijando. Debruçada sob a janela , ela fita os olhos na grama verde, se perde...


- Olá, como você está Sophia?!
(sorriso)
-  Há
quanto tempo está aqui?
- O suficiente...
 


Pássaros cantarolam, rosto iluminado pelos raios, brisa tocando os cabelos, profundo respirar.

- Sophia, porque está tão quieta ?!
- estou apenas olhando.
- O que olhas ?!
- ele.
- Ele?!
Sophia interrompe e diz : - Sim, ele.
- Mas não o vejo,não vejo ninguém além de nós.
- é por
que eu o espero, espero.

 
Sente o calor dos raios , prende os cabelos e sai. Aquele pensamento a acompanha por pouco mais de um verão.